O PODER DE S. JOSÉ
Doze mil escudos
O tormento duma factura a pagar
Na nova construção (em Mogofores) era preciso colocar a canalização da água para os quartos de banho e para a cozinha. Chamei uma firma de Coimbra que examinou o trabalho a fazer, tomou as medidas e prometeu mandar o orçamento.
A quantia apresentada era muito elevada porque o material tinha de ser comprado na Bélgica. Aconselhei a simplificar a instalação, mas a firma insistiu concedendo um bom adiamento para o pagamento. Começaram logo os trabalhos.
Poucos dias depois, chegou a factura com o pedido de pagamento dentro de quinze dias justificando com vários motivos.
Aquela factura de 12.000$00 posta em cima da minha secretária atormentava-me, pois naquele tempo era uma grande soma.
Tive uma inspiração. Desci à Capela (vivíamos ainda na Casa velha) e tirei do seu pedestal a imagem de S. José; levei-a para o quarto e pu-la dentro do armário onde, entre a naftalina, conservávamos as cobertas para o período de Inverno: «Ficarás aqui – disse ao Santo – enquanto me não tiveres ajudado a pagar a grande dívida».
Durante a refeição, o noviço encarregado da Capela veio-me dizer que tinha desaparecido da Capela a imagem de S. José.
Muito seriamente disse-lhe: «A culpa é tua, pois deixas sempre a porta aperta que dá para a estrada. Quando escreveres aos teus pais, pede dinheiro para comprar outro S. José».
O noviço, Bonomelli, era originário de Bérgamo.
Passaram três dias e uma boa senhora veio trazer-me um envelope, desculpando-se da pequena oferta. Chegado ao meu escritório, abria-a e, com minha maravilha e alegria, retirei o conteúdo. Eram 15.000$00!
Corri logo ao quarto guarda-roupa, abri o armário e exclamei a S. José: «Percebi o que te incomoda! É o cheiro da naftalina! Levo-te para o teu lugar na Igreja, mas está atento que não aconteça outra vez!»
Quando, depois do exame de consciência, os noviços entraram no refeitório, Bonomelli correu até mim radiante: «Padre-mestre, S. José voltou, está de novo na Capela».
Eu pus-me a rir... mas não disse nada sobre o que tinha acontecido, acrescentei apenas: «Agradece-lhe reconhecido, pois se não fosse assim, teriam de pagá-lo os teus parentes de Bérgamo».
A guerra e a fome
Quando rebentou a guerra, por graça de Deus Portugal não foi envolvido na tragédia, mas sofreu muito pela falta de víveres. Em Casa tinha umas oitenta bocas a alimentar.
No início daquela carestia, recordo-me de ter posto ao pescoço da imagem de S. José dois saquinhos cheios de farinha dizendo-lhe: «Caro S. José, pensa tu em não deixar que faltem os víveres a toda a comunidade».
Não saberia dizer quantas vezes da camioneta que transportava gente das várias freguesias para a estação ou para a sede do Concelho de Anadia foram descarregados junto à porta do nosso Instituto, sacos cheios de víveres: batatas, cebolas, azeite, verdura, fruta. Ainda hoje não sei quem foram aqueles benfeitores anónimos.
Mas um facto que tem o seu quê de extraordinário aconteceu no Dia de Ramos de 1942. Era meio-dia e tocou a campainha que chamava a Comunidade para o almoço. Ao mesmo tempo, tocou a da portaria. Fui eu mesmo abrir: estavam ali duas irmãs, bastante idosas, que eu conhecia e que moravam em Famalicão de Anadia. Cada uma trazia à cabeça um grande cesto coberto com um pano branco. Depois dum respeitoso cumprimento explicaram-me: «Viemos cumprir uma promessa. Desde há alguns meses não tínhamos notícias dum nosso sobrinho que é militar nos Açores. Preocupadas com o seu silêncio, prometemos que logo que soubéssemos que estava vivo, daríamos à vossa Casa duas fornadas de pão. Ontem recebemos uma carta do sobrinho, com boas notícias e estamos aqui com o prometido». Fi-las entrar e acompanhei-as à despensa através do refeitório.
Chamei o irmão encarregado para ajudar as duas senhoras a descarregar os cestos. Logo que o irmão descobriu os dois cestos exclamou: «Mas isto é um milagre!»
Maravilhado com aquela exclamação perguntei-lhe:
- Milagre, porquê?
- Padre-mestre, não viu, ao passar no refeitório, que nas mesas não há pão? Estamos sem ele desde o pequeno-almoço desta manhã!
- E não me disseste nada?
- Não falei para não o incomodar.
No regresso, passamos pelo refeitório a caminho da portaria enquanto os nossos alunos entravam a comer a refeição com o pão enviado sem dúvida por S. José.
Maria Rita Scrimieri (org.), Il Monello di Dio, pp. 62-63
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