Segunda-feira, 24 de Julho de 2006

OS TRÊS PASTORINHOS

 

O Pe. Humberto também escreveu curtas peças de teatro. A que se segue é como uma amostra, um breve trecho de tema natalício, em verso; está assinada pelo seu pseudónimo Salesianus e traz a indicação de: «Para rapazes- infantil».

 

 

            PERSONAGENS:

 

 

ISAC (10 anos)

ABRAÃO (10 anos)

LEVI (10 anos)

 

 

ACTO ÚNICO

 

(O palco representa a caverna de um monte. Ao fundo, um cordeiro preso. Os três dormem à entrada do palco. Alguma. palha serve de enxerga, Abraão e Isac dos lados. Ao centro, Levi. Abraão está coberto com uma grossa pele de carneiro. Têm a cabeça sobre pedras, de modo que o seu rosto fique um pouco visível da plateia. É luar).

 

 

(ISAC, ABRAÃO e LEVI)

 

ISAC

Esta noite dormiste, Levi?

 

LEVI (senta-se)

Esta noite não dormi.

Tenho frio, tanto, tanto,

Estou mesmo regelado.

 

ISAC

Chega-te aqui a meu lado,

Ficas mais aconchegado.

E tu, tens sono, Abraão?

 

ABRAÃO

Tenho frio, sono não.

 

LEVI

Noite assim nunca eu vi.

Lá fora está a nevar...

 

ISAC

Chegai-vos ao pé de mim.

 

ABRAÃO (senta-se)

Estou a ver o luar,

O Céu parece jasmim.

 

LEVI

E eu estou a tiritar,

Noite assim nunca vi...

Tua pele queres dar

Em troca do meu pião?

 

ISAC (de pé)

Com um frio de rachar

Não farei tal transacção.

 

LEVI (de pé)

E a pele do teu cordeiro

Queres vender-ma, Abraão?

 

ABRAÃO

Vendê-lo-ei todo inteiro,

Não vou vender só a lã.

 

LEVI

Vais vendê-lo? Mas a quem?

 

 ABRAÃO

Mal descobrir a manhã,

Irei a Jerusalém

Ao Herodes Idumeu.

 

LEVI

Pensa bem que vais fazer...

Tão mau! Medo tinha eu!

 

ABRAÃO

Se ele me tentar bater,

Fugirei para Belém.

 

LEVI

E se a guarda te prender?

 

ABRAÃO

Gritarei por minha mãe.

(Outro tom)

Tenho sono... Vou dormir...

 

LEVI

E eu, sono e frio também...

 

ISAC (senta-se)

Eu, por mim, já descansei.

E vós não quereis ouvir

Lindo sonho que eu sonhei,

Lindo menino que eu vi?

 

LEVI

Eu ‘stou mesmo regelado!

 

ISAC

Não queres ouvir, Levi?

 

LEVI

Conta, que estou acordado.

 

ABRAÃO (de pé)

O meu sono já perdi,

Diz, Isac o que hás sonhado.

 

ISAC

Viera à terra um menino

Do Céu fazer-nos herdeiros...

Também Pastor, mas divino

Éramos nós os cordeiros!

 

ABRAÃO

E tu já o conhecias?

Quem era?

 

ISAC

                 Era o Messias!

 

LEVI e ABRAÃO (sentam-se)

O Messias!?

 

ABRAÃO

Rezam as profecias

Que há-de nascer em Belém!

Já uma vez ouvi falar...

 

LEVI

E eu ouvi contar também...

 

ISAC

Mas que lindo! Ele sorriu

Para mim... e eu para Ele.

Tremia muito de frio,

Dei-lhe então a minha pele.

 

ABRAÂO

Conta mais e conta bem.

Oh, que sonho, que alegria!

 

ISAC

A seu lado estava a Mãe,

Era uma Virgem: Maria!

Toda pureza e doçura,

Era uma estrela de luz!

Com que mimos de ternura,

Com que mimos de carinho,

Abraçava o seu filhinho,

O seu filhinho Jesus!

De barbas a branquear

Havia um Santo também...

 

ABRAÃO

Era o avô, se calhar...

 

ISAC

Não. Era guarda da mãe.

 

(Dentro dos bastidores cantam)

 

Ah! Vinde todos à porfia

Cantar um hino de louvor,

Hino de paz e de alegria,

Pois já nasceu o Salvador.

Gloria in excelsis Deo!

 

(Durante este canto, os três pastorinhos estão admirados, e no seu rosto vai-se espalhando grande alegria. No fim, levantam-se com entu­siasmo).

 

TODOS

Será verdade?

 

ABRAÃO

Vou já correr à cidade.

Oh, que alegria tamanha!

 

LEVI (ao F., espreitando à D.)

Olhai, além na montanha,

Tantos anjos, tanta luz!

 

ISAC

É certo, nasceu Jesus!

 

ABRAÃO

Dar-Lhe-ei o meu cordeiro.

(Pega nele aos ombros)

 

ISAC

Eu dou-lhe a pele do carneiro

Para se agasalhar..

 

LEVI

Mas eu não tenho que dar

A esse lindo menino

(Chora)

Naquele presépio nado...

Já descobri: um rabino

Deu-me um livrinho doirado

Sobre o Messias divino.

 

ISAC

Mas ele ‘inda é pequenino...

De certo não sabe ler...

 

LEVI (pensa)

É verdade! Que fazer?

Dou-lhe um figo madurinho,

Que me deu a minha mãe.

 

ABRAÃO

Mas, sem dentes, coitadinho,

Não pode comer também.

 

LEVI (a chorar)

Pobre de mim! Mas então

Que posso dar-lhe afinal?

Ah! Já sei: o meu pião

Com o bico de metal.

 

ABRAÃO

Mas ele não o sabe deitar,

Nem sabe apanhá-lo à mão,

Nem de bico para o ar

E caraculo prò chão.

 

ISAC (ao fundo)

Vês uma estrela a brilhar?

Nós já vamos... (aponta).

É acolá!

(Saem Isac e Abraão).

 

LEVI

E eu sem ter que lhe dar…

(Ajoelha a chorar).

Ó Jeová! Jeová!

(Levantando-se).

 

Ah! Já sei. Correrei lá.

Mesmo que seja pobrezinho,

Pego nele com devoção,

Aperto-o ao meu coração,

E depois... dou-lhe um beijinho!

 

(Sai a correr, enquanto cantam dentro «Gloria in excelsis Deo!»)

 

 

Cai o pano

Publicado por Alexandrina de Balasar às 14:27

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