Neste ano do primeiro centenário do regime republicano, com a esquerda no poder, inevitavelmente se dará grande relevo à comemoração da implantação da República, mesmo que a gente não veja que as nações de regime monárquico vivam pior que as que vivem sob regime republicano.
A Alexandrina fala da República ao contar a sua estada na Póvoa de Varzim em criança e toma perante ela uma atitude muito crítica.
Em Cristo Gesù in Alexandrina, vem uma quadra com que, segundo a Deolinda, ela gostava de irritar os guardas. Embora a tradução possa não a devolver com rigor ao português de origem, ei-la:
Co’as barbas de Afonso Costa
Nós faremos um pincel
Para limpar as botas
Ao bom rei D. Manuel.
Parecerá exagerado o temor que ela mostra uma vez frente aos guardas, mas a GNR, criação do novo regime, deveria simbolizar todas as prepotências que estavam a ser cometidas contra a Igreja: casas religiosas fechadas, bispos exilados, padres perseguidos, edifício religiosos nacionalizados... Na Póvoa, o colégio das Doroteias foi adaptado a quartel, as obras da Basílica do Sagrado Coração de Jesus foram suspensas, religiosos foram humilhados…
Depois de umas férias, íamos para a Póvoa de Varzim, eu e a minha irmã; tínhamos quem nos acompanhasse, mas só depois de atravessarmos a freguesia. Íamos pelo caminho-de-ferro e avistámos, ao longe, dois guardas-republicanos. Tivemos medo deles, e refugiámo-nos na volta de um caminho. Como minha irmã levasse um cestinho com linho, eles imaginaram que ela levava fósforos, proibidos naquele tempo (espera-galegos), e perseguiram-nos.
Não fugimos e gritámos muito. Aos nossos gritos acudiram várias pessoas. Já estavam para fazer fogo, quando compreenderam que não éramos portadoras de tal contrabando. Felizmente que, desta vez, escapámos à morte.
Se os tempos eram agressivos para a Igreja, compreende-se que os membros desta tivessem particular cuidado em venerar quem pela mesma Igreja sofria.
Lembro-me que tinha muito respeito pelos sacerdotes e, quando estava sentada à porta da rua, só ou com minha irmã e primos, levantava-me sempre à sua passagem e eles correspondiam, tirando o chapéu, se era de longe, ou dando-me a bênção, se passavam junto de mim.
Observei, algumas vezes, que várias pessoas reparavam nisto, e eu gostava e até chegava a sentar-me propositadamente para ter ocasião de me levantar, no momento em que passavam por mim, só para ter o gosto de mostrar a minha dedicação e respeito pelos ministros do Senhor.
O bispo que em Vila do Conde a crismou fê-lo no exílio, pois era bispo de Algarve;o de Braga, que também estava no exílio (como todos os outros) virá mesmo a falecer no exílio, exactamente em Vila do Conde, que é distrito do Porto.
O futuro P.e Pinho, esse, jovem seminarista, tivera de fugir para o estrangeiro.
A República não tem muito que celebrar.